Um dos fatos que a maioria das pessoas não sabem é que o 13º salário surgiu após o Brasil ter conquistado o bicampeonato na Copa do Mundo de 1962.
A conquista brasileira veio num 3 a 1 de virada contra a seleção da Tchecoslováquia. Garrincha jogou com febre de 38°C e o time não contava com o seu principal craque – Pelé, que estava lesionado.
Poucas pessoas sabem que o bicampeonato não foi a única conquista brasileira naquele ano. Logo, muitas pessoas que trabalham em uma caldeiraria industrial, hoje nem fazem ideia do papel que a Copa do Mundo possui nessa conquista.
Garantido por lei e sancionada pelo presidente João Goulart, em 13 de julho surgiu o 13º salário para os brasileiros.
Contudo, é interessante dizer que ele não possui relação apenas com a Copa do Mundo de 1962. Na verdade, é uma conquista que surgiu através de casos de reivindicações surgidas em fábricas, demissões, greves, assinados e prisões.
Portanto, é errado dizer que a conquista do 13º salário foi relacionada apenas à Copa. No geral, foi uma vitória em decorrência de fatores que hoje são contemplados por funcionários de uma empresa de manutenção elétrica e tantos outros negócios.
Neste artigo você vai conhecer a história de como, em um período de inflação alta, embates entre esquerda e direita, trabalhadores promoveram uma greve geral após 18 dias do bicampeonato para conquistar o benefício.
Adiantamos que essa conquista aconteceu principalmente em decorrência dos protestos dos empresários de áreas, como lojas que vendiam resistências blindadas, além de outros negócios, e do mercado financeiro da época.
Para alguns especialistas, a ideia de ter um décimo terceiro salário seria desastroso. Porém, hoje vemos que o benefício deu certo tanto com a população brasileira quanto para a economia.
Origem do abono de Natal
Sabe aquela gratificação que você recebe no período natalino? Ela tem origem em países de maioria cristã, onde os patrões tinham/têm o costume de presentear seus funcionários com cestas repletas de alimentos. O mesmo acontece nas festas de fim de ano.
Na Itália, inicialmente, essa doação de alimentos funcionava de maneira involuntária, e com o tempo se tornou obrigatória em 1937, durante o regime fascista de Benito Mussolini.
Isso aconteceu quando o acordo coletivo de trabalho nacional passou a prever um mês adicional de salário.
Já em 1946, o benefício passou a ser aplicado em várias categorias de trabalhos italianos, desde profissionais que trabalhavam com gaxetas de vedação, até lojistas, consolidando-se por meio do decreto presidencial em 1960.
No Brasil, os primeiros registros de greves e demandas para obter o abono de Natal datam de 1921. Algumas empresas obtiveram um papel importante nesse período de manifestação, como a Paulista de Aniagem e a Indústria Mariângela, ambas do setor têxtil.
Ainda em 1921, o abono de Natal foi conquistado pelos trabalhadores da fabricante Pirelli, o que levou o restante dos setores para uma greve geral no ano seguinte em Santo André (SP).
Essa greve afetou trabalhadores que atuavam com manutenção de cabeamento estruturado industrial e outros setores do mercado.
Nessa onda de greves que teve forte presença em dezembro de 1945 a março de 1946, com a presença de ferroviários da Sorocabana organizando todas as manifestações.
De acordo com depoimentos da época, os trabalhadores já estavam cansados de receber apenas um panetone e um vinho barato para curtir as festas de fim de ano.
As pessoas à frente dessas manifestações perceberam que, da mesma maneira que os patrões podiam fazer suas festas, os trabalhadores também poderiam, mas agora com um pouco mais de decência.
Trata-se de um problema que era levantado há muito tempo. No final do ano, o funcionário que trabalhava com conexões galvanizadas queria comprar um sapato melhor para o filho, além de comprar um vestido para a mulher.
Estamos falando de compras básicas de fim de ano, época em que as pessoas, hoje, costumam gastar valores que vão além da aquisição de sapatos e vestidos.
O que era laranjas, hoje é dinheiro
De acordo com alguns estudiosos, antes mesmo dos trabalhadores irem à luta para conquistar uma salário extra, já havia indícios de que as pessoas estavam fartas de não receber nada no final do ano.
É interessante resgatar alguns fatos históricos que aconteceram no país e que fazem parte dessa conquista dos trabalhadores, que faz muitos funcionários de uma fábrica de resina epóxi terem a oportunidade de fazer algumas compras no final de ano.
Antonio Chamorro, líder sindicalista, contou que, em 1946, quando trabalhava em uma fábrica têxtil, os trabalhadores reivindicavam ao patrão uma gratificação de fim de ano, porém os funcionários receberam laranjas em vez de um salário bônus.
Já no ano seguinte, os trabalhadores pediram cortes de tecido ao invés de laranjas, e receberam panos de má qualidade e muito quentes para passar as festas de fim de ano.
Em 1968 os trabalhadores da fábrica reivindicaram um tecido mais leve e adequado para passar a temporada de verão. Ironicamente, essa reivindicação foi abraçada pelo patrão, o que fez os funcionários considerarem toda essa luta como uma verdadeira vitória.
Diante desses acontecimentos, é interessante observar como os trabalhadores conseguiram aproveitar todas as brechas dadas pelos patrões na época.
Isso porque, no primeiro momento, o empregador cedeu uma vez, na próxima, ele não teve argumentos para não fornecer o benefício novamente, e em seguida a gratificação teria que ficar melhor.
Por exemplo, se uma empresa não concedia benefício aos seus funcionários, assim como uma de chapa de aço oferece, haveria uma série de manifestações.
A luta dos trabalhadores para conseguir o abono de Natal atravessaria a década de 1950, chegando em 1960 já com um avanço significativo e bem mais forte do que seus primeiros anos de luta. Ou seja, o movimento ganhou mais importância.
Como era o Brasil dos anos 1960?
No início dos anos 1960, uma série de fatores contribuíram para que o Brasil entrasse em uma crise econômica profunda.
Entre esses fatores, temos um endividamento externo gerado pelas políticas desenvolvimentistas do governo Juscelino Kubitschek; déficits elevados no setor comercial e um aumento da inflação que acompanha a vida dos brasileiros desde o final de 1950.
Em 1960, a inflação acumulada chegou a 30,5% e, no ano seguinte, atingiu 47,8%. Em 1962, ano em que os brasileiros conquistaram o 13º salário, a alta dos preços chegou a 51,6%.
Trata-se de um período em que o Brasil enfrentou uma verdadeira alta da inflação, e os trabalhadores começaram a sentir que o custo de vida já estava muito alto.
Estamos falando de um Brasil que estava enfrentando uma dívida externa, a dívida que foi herdada pelo governo Juscelino, com a construção de Brasília.
Nesse mesmo tempo, a indústria nacional estava passando por um processo de expansão. Portanto, de um lado os trabalhadores já não tinham tanto poder de compra, lutando para uma qualidade de vida digna, do outro, observavam o lucro das empresas.
Diante de uma conjuntura internacional, o mundo estava bipolarizado entre Estados Unidos e União Soviética, com o movimento anticomunista crescendo significativamente que, em questão de tempo, chegou ao Brasil em 1964.
Felizmente, havia também a ascensão dos movimentos sindicalistas e dos movimentos sociais, que vinha acontecendo tanto nas áreas rurais quanto nas urbanas, através de uma sindicalização crescente e muitas greves que tiveram um papel muito forte nesse período.
Nesse contexto chegava João Goulart para a presidência em 1961, ocupando o espaço que era de Jânio Quadros, que renunciou após sete meses de mandato.
A greve de 1962 e a conquista do 13º salário
Para contextualizar melhor o cenário, é importante pontuar a pressão crescente, que envolvia o primeiro-ministro Tancredo Neves, que renunciou, e em seguida Goulart indicou San Tiago Dantas para substituí-lo.
Por sua vez, Dantas tinha o apoio da esquerda do Congresso e do movimento sindical, entretanto, a sua indicação foi vetada pelos políticos conservadores.
Como resposta ao veto da indicação, aconteceu um grande movimento sindical que convocou uma greve geral em 5 de julho.
A greve que aconteceu 18 dias após a conquista do Brasil na Copa do Mundo desmente análises que indicavam que o décimo terceiro seria uma conquista que aconteceu em razão do bicampeonato.
No geral, as greves afetaram até mesmo o Rio de Janeiro, provocando paralisação de trens em meio a um cenário onde o país enfrentava avanços na fome e uma crise econômica bem profunda.
A Baixada Fluminense explodiu em uma onda de saques, no que resultou em 42 mortos, 700 feridos e mais de 2 mil estabelecimentos atingidos.
De acordo com a lei, o 13º era concedido apenas para os empregados urbanos do setor privado. Ou seja, trabalhadores rurais e servidores públicos não tinham acesso a esse benefício.
Em 1963, João Goulart resolveu estender o benefício para as pessoas que já estavam aposentadas. Em 1965, no período da ditadura, lei sancionada pelo presidente Castello Branco estabeleceu que o pagamento do benefício seria em duas parcelas.
Por fim, a Constituição de 1988 garante que o 13º seja para todos os trabalhadores urbanos e rurais, e de direito estendido para os servidores públicos através da Emenda Constitucional 19 daquele mesmo ano.
Conclusão
Por fim, no decorrer deste artigo, percebemos a importância de batalhar para conquistar certos objetivos. No geral, a luta para conquistar nos setores trabalhistas, promove:
- Alívio de estresse;
- Desenvolve a autoconfiança;
- Oportunidades para uma vida melhor;
- Melhores condições de trabalho;
- Maior suporte da empresa para o funcionário;
- Mais engajamento para continuar na organização.
Ou seja, são vantagens que conseguem afetar significativamente a vida dos líderes e dos funcionários. O 13º é prova de que a batalha em prol de certas questões são totalmente válidas.
Esse texto foi originalmente desenvolvido pela equipe do blog Guia de Investimento, onde você pode encontrar centenas de conteúdos informativos sobre diversos segmentos.