“Texto: Luiz Adrien”
“Aquilo que se impõe à psiquiatria é uma verdadeira mutação, tendo por princípio a abolição total dos métodos agressivos, do regime carcerário, e a mudança de atitude face ao indivíduo, que deixará de ser o paciente para adquirir a condição de pessoa, com direito a ser respeitada.”
Nise da Silveira
Nise da Silveira foi uma médica psiquiatra que revolucionou o tratamento de doentes mentais no Brasil nos meados do século passado.
Sendo totalmente contra os tratamentos utilizados na época, por julgar agressivos e sofrendo resistências ao sugerir novos métodos que não aqueles, Nise foi transferida para o trabalho com terapia ocupacional, atividade então menosprezada pelos médicos, mas que foi extremamente positivo para sua observação como psiquiatra e a ajudou a reforçar a sua tese de usar processos menos evasivos. Nise foi pioneira ao enxergar o valor terapêutico da interação de pacientes com animais, por exemplo. Percebeu que com a presença de cães, os pacientes passavam a cuidar dos animais, a brincar com eles, tornando-se mais alegres e afáveis.
Mesmo assim, sofria retaliações. O jornalista Ferreira Gullar em seu livro Alquimia na Quitanda relata que na ocasião foi procurado pela médica para que fosse publicado no Jornal do Brasil uma notícia denúncia sobre a hostilidade que alguns médicos tratavam esses animais em oposição ao tratamento proposto pela Drª Nise.
Em um processo constante de observação de novas terapias, no lugar das tarefas tradicionais da terapia ocupacional, como limpeza e manutenção, Nise experimentou aplicar atividades criativas e assim criou ateliês de artes expressivas como a pintura e modelagem. No seu entendimento a linguagem não verbal das artes possibilitava aos doentes mentais expressar vivências conflituais expressivas. Desta forma a médica pode observar mais atentamente o comportamento de seus pacientes, entender melhor esses conflitos e auxiliá-los de forma mais enfática no tratamento.
Dessas oficinas surgiram nomes como Emygdio de Barros, Raphael Domingues, Fernando Diniz, Adelina Gomes e Octávio Ignácio, artistas que despontaram nesses ateliês e tiveram suas obras expostas no Brasil e no exterior.
Conheça a obra de três desses artistas no site do Museu da Imagem do Inconsciente, pelo link https://www.mii.org.br/3artistas
Em 2016 foi lançado o longa-metragem “Nise: o coração da loucura” dirigido por Roberto Berliner, e tem a atriz Glória Pires como protagonista no papel da Drª Nise. O filme pode ser assistido no canal da HBO.
Anos mais tarde Nise fundou o Museu da Imagem do Inconsciente no Rio de Janeiro e possibilitou comprovar a sua teoria de um tratamento psiquiátrico menos invasivo e com resultados surpreendentes. Diversos profissionais elogiaram o seu trabalho, entre eles o médico Carl Jung que a convidou para ser sua aluna. Através da terapia ocupacional, Nise mudou os rumos dos tratamentos psiquiátricos no Brasil.